sábado, 25 de dezembro de 2010

Rio, 27 de Agosto de 1990

Segunda triste de um agosto blues
(Em Memória de Stevie Ray Vaughan)

No início deste mês, a comunidade bélica internacional se reuniu mais uma vez para deixar o nosso planeta azul, a Terra, mais triste. No entanto, no final deste mesmo mês, no dia 27 de agosto, o Mississipi que corre em nossas veias ficou mais seco e árido; e a Terra, verdadeiramente, ficou mais triste, pois você se foi...Todavia, ao ir, você deixou ressoando em nossos corações não apenas o blues, mas sim — e acima de tudo — a marca, a profunda marca do seu eterno e virtuoso blues! A admiração pelo seu talento e a marca que você imprimiu foram tão profundas que agora todos nós, órfãos do seu talento, choramos de dor! Sempre escutamos, porém jamais poderíamos imaginar que o blues fosse tão fundo e machucasse tanto. Você sempre soube disso, nunca nos escondeu, mas é que o seu talento era tão grande que todos nós ficamos embriagados pela beleza, pela estética genial do seu blues. Agora...,tecnicamente, você foi tão incrível que o blues tornou-se sinônimo de festa! Stevie, estou tentando ser impessoal, porém eu não consigo. Meu velho, há vinte anos, você sabe disso muito bem, Jimi Hendrix, o seu ídolo, ídolo de todos nós, também se despediu tragicamente de um mundo em conflito. Por que você repetiu essa história, Stevie? Aqui, hoje, eu tenho certeza que o mundo da arte definitivamente ganhou — e ao mesmo tempo perdeu — o maior talento contemporâneo da guitarra blues! Todavia, aí, aonde você está, em alguma confraria sagrada do blues, todos também vão ficar, com certeza, bastantes alegres e felizes da mesma forma como todos nós sempre ficamos. Stevie Ray Vaughan: sabe por que a sua lacuna é insubstituível? Porque você era tão fera que ao morrer levou a lacuna consigo! O impacto de sua morte foi rápido e fulminante como “Sccuttle Buttin'”. Foi a interpretação mais triste, mais blues de toda a sua carreira! Nessa você foi fundo demais! Por tudo o que você representou não só para mim, mas para a tradição do blues, valeu! Minha gente, se “Eric is God, Stevie is...” Não sei! Ou será que sei? Pouco me importa, but Stevie is blues!

I love the blues!
I love you, Stevie Ray Vaughan!
God bless you!




O mesmo artigo foi lido na abertura do programa "Mississipi Dreams", da extinta Rádio Fluminense-FM, "A Maldita", Niterói, Rio de Janeiro. Este é o áudio:



Rio, inverno de 1990

P.S.: Hoje posso dizer que esta homenagem foi o primeiro texto que escrevi em minha vida. Na época, estava me sentindo muito mal por causa do falecimento do SRV. Não sabia o que fazer, mas algo deveria ser feito. Através de um sonho, entendi que deveria escrever algo, uma homenagem a Stevie. Assim se fez! Me senti melhor e aliviado da tristeza, logo que terminei este texto. Estou mantendo ele como foi redigido na época, há 20 anos. Portanto, foi nesta data que teve início a minha vida como escritor.